quarta-feira, 15 de abril de 2015

Lembro ainda com detalhes nítidos de uma noite que passamos juntos, na qual você dormia seu sono profundo e despreocupado, enquanto eu mais acordada do que nunca, reparava na sua barba crescendo no maxilares e me ocupava de pedir a deus que você pudesse ficar, pensando que tudo que eu queria era cuidar de você.
O tempo passou, e agora eu me pego pedindo à Iemanjá que te coloque num barquinho pra longe e que leve junto com você tudo que você trouxe: suas músicas, sua risada, suas manias chatas e esse sentimento que nasceu aqui mesmo eu tentando evitar tanto, e que agora me parece apenas um apêndice estourado, me fazendo sofrer. Iemanjá é mãe sábia, e a solução veio rápida: antes que eu percebesse você já embarcava num avião pra um lugar a muitos e muitos quilômetros do meu alcance
A pergunta que eu ainda não consegui ter resposta é: se você foi de avião, que é muito mais rápido que um barco, meus sentimentos foram embora mais rápido também? Quisera eu.
Em cinco dias você volta. Saberei

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Season Finale

Você está diferente. Percebo pelo jeito que anda depois de abrir a porta pra mim.
Os primeiros minutos dos nossos reencontros são sempre um pouco tensos, nunca sei o quanto é aceitável te tocar e me pego pensando nas coisas que nos aconteceram durante esse tempo que estivemos separados e que agora, inevitavelmente, fazem de nós o que somos. Ainda sim, quando olho nos seus olhos e reconheço neles essa cor que me é tão familiar penso que nunca estivemos distantes, porque você nunca foi embora de mim por completo e vice versa.
Os minutos em que nenhum de nós dois fala nada são muitos mas em compensação ficamos em silêncio olhando nos olhos um do outro, de um jeito que não dá pra mentir nem disfarçar o que ainda sentimos.
Em alguns momentos começo a chorar. As vezes a lágrima cai discretamente mas na maioria das vezes vem uma enxurrada de água salgada e eu quase não consigo falar de tanto que estou soluçando. Nada parecido com os filmes ou novelas que eu tanto acho que copiam nossa história. Ou talvez nós sejamos os personagens de um filme, difícil dizer a essa altura, quando todos os acontecimentos parecem saídos de um roteiro.
Você, que deveria estar acostumado a me ver chorar, fica perdido e por falta de palavras acaba me abraçando. Nesse momento percebo que perdoamos um ao outro todas as coisas ruins que fizemos.
Os reencontros são todos meio parecidos: confusos e inesperados, mas talvez dessa vez tenhamos a chance de começar tudo de novo e esquecer o passado que costuma doer bastante.
Eu, que esperei tanto por esse momento fico sem saber o que fazer quando você promete que tudo vai ser diferente. Não posso dizer que sim nem que não porque nem uma das escolhas será fácil.
Me despeço dizendo no seu ouvido que ainda te amo, e caminhando por cima de uma ponte, me fascino com o por do sol que tinge de laranja o horizonte de prédios em contraste com o céu muito cinza ao fundo. Tento tirar uma foto mas não fica boa. Diante disso percebo que as melhores fotos são as que tiramos com nossos olhos, e que com certeza o melhor filme é sempre a vida da gente.

quarta-feira, 20 de março de 2013

sinto cheiro de coisa boa.
vem de mansinho, é quase nada. mas eu sei.
sorrio por dentro e me calo, melhor não falar tão alto...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Não estou muito certa de onde exatamente isso se encaixa, mas eu precisava agradecer.
Obrigada pelas praias maravilhosas do Brasil, sejam elas na Bahia ou no litoral norte mesmo.
Obrigada pela Bruna em minha vida, tornando tudo mais fácil e melhor com suas imitações e sorrisos abundantes.
Obrigada pelo dia da semana reservado à encontrar as meninas, ficar muito bêbada com elas e depois passar mal de tanto rir enquanto fumamos um.
Obrigada pelos dias ensolarados, pelas cervejas geladas, pelos baseados nas horas certas.
Obrigada por todas as minhas amigas, que com o tempo foram conquistando (ou forçando) seu espaço dentro de mim, e sem nem imaginar me mudaram e fizeram de mim uma pessoa melhor, pois sendo tão amada só o que posso fazer é amar mais também.
Obrigada pelos meus irmãos, que me fazem passar tanta raiva mas ao mesmo tempo despertam tanto amor em mim que eu só posso concluir que nos escolhemos antes dessa vida, sem erro nenhum.
Obrigada imensamente pela minha mãe, a pessoa mais doce do mundo, cujo menor gesto é capaz de me fazer transbordar ribanceiras de amor em forma de lágrimas brotando pelos olhos.
Obrigada por todas as dificuldades que me fizeram quem eu sou hoje.
Obrigada pelos grandes amores, até pelos que não deram certo.
Obrigada pelo amor infinito que sinto dentro de mim, pelas pessoas, pelos lugares, pelos cachorros da rua e pelos bebês sorridentes. A única coisa que peço é poder fazer os outros sentirem um pouquinho do que sinto agora, Amém

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Saravá, Bahia!

Voltei da Bahia.
Meu corpo se confunde entre uma saudade doída de acordar olhando o mar e uma paz de espírito inexplicável.
A verdade é que a Bahia mudou muita coisa dentro de mim, mais do que eu achei que fosse possível. Entendi e mais do que isso, aceitei que uma vida boa de se levar é uma vida simples.
Com os baianos aprendi a não ter pressa. Paulista por lá corre grande risco de cair na bobagem de continuar sendo paulista, mas não façam isso. Sua cerveja pode demorar 20 minutos para ser servida e sua comida talvez demore 1 hora pra ficar pronta. Mas não estresse, respira fundo, olha o céu, dá um pulo no mar, esquece.
Aprendi mais ainda a viver o momento. Não estando apenas presente de corpo, mas de alma e sentimento. Quando vi, eu que só queria chegar no camping e tomar banho tava conversando com Dona Lucinha, que faz a melhor cocada da Bahia, talvez do mundo! E ela dizendo: "Não vou subir a cocada pra 2 reais não, imagina...vendendo por 1 real tenho meus clientes que encomendam 150, 200 cocadas, e ai talvez eles não comprem mais né? A criançada também adora, porque pedem uma moeda pros pais e vem aqui com 1 real comprar a cocadinha, se subir pra 2 complica, né?" Ouço tudo sorrindo por dentro e por fora e acabo encantada com os netos de Dona Lucinha, Enzo de 3 anos e Gustavo de 2. Enzo é marrento e adora atirar as coisas longe, cadeira, chinelos, o caminhão de brinquedo. Gustavo é calmo e observa de longe as peripércias do irmão, se juntando apenas quando a brincadeira envolve motos imaginárias fazendo um barulho absurdo. "Como que a moto faz, Enzo?" "Assim ó: BÉÉÉÉÉÉÉÉÉ"
Dona Lucinha continua me deixando maravilhada enquanto tento tirar uma foto com Enzo, diz que saiu em vários livros e é conhecida pelo Brasil todo, mas que a essa altura não quer sucesso nem muito dinheiro, só o suficiente pra viver em Cumuruxatiba. Tudo isso me chamando de "amor"e "minha linda". Como não se apaixonar instantaneamente por essas pessoas?
Na Bahia aprendi a fechar os olhos. Só para assim, conseguir tê-los mais abertos. Difícil explicar mas em vários momentos me peguei fechando os olhos afim de registrar o máximo de coisas possíveis, todas as sensações sentidas de maneira tão simples mas tão intensa que a vida não deveria ser de outro jeito.
Toda minha "inspiração" bateu com força enquanto estive lá, e frases, textos e conclusões me vinham à cabeça em todo momento, tudo muito natural.
Conheci ainda Dona Ana, a mestre em pudins de tapioca, biscoito e tudo mais que se possa imaginar. Ela conta com simplicidade como cozinhou para alguns rapazes que chegaram com fome e sem dinheiro no seu trailler, mesmo com medo de ser roubada por eles. Diz que depois acabaram de tornando grandes amigos dela e segue a mesma filosofia de Dona Lucinha: não quer fama nem sucesso, só sossego.
Tiro fotos a todo momento mas sei que a máquina não pode registrar com a perfeição de meus olhos o degradé do entardecer, que não decide se fica azul ou rosa, enquanto milhares de estrelas surgem do outro lado. Queria que todos vissem as várias cores do mar, ora amarronzado, ora azul e verde-caribe, mas me contento em fechar os olhos bem forte na esperança de que assim talvez eu consiga me lembrar da paisagem para sempre.
Sinto um desapego enorme, não sentindo falta de nada material da minha vidinha paulista, só da minha mãe e meu irmão. Sinto também uma paz de espírito imensa, reconfortante. Vontade de ser melhor pra mim mesma e pros outros, vontade de fazer do mundo um lugar melhor pra gente viver, ainda que em pequena escala. Vontade de espalhar o amor e de Ser o amor. Mais abençoada impossível.
Então to aqui, ainda tentando descobrir como voltar a viver numa terra cinzenta, quando tudo que eu via era Sol. Ainda não descobri, mas algo em diz que infelizmente, a gente se acostuma fácil com a vidinha de sempre.
Ah, quase ia esquecendo da lição mais importante que a Bahia me deixou: não importa o tempo que demora pra chegar, o importante é que chegue.
Pode vir 2013, to preparada.

Essa é Dona Ana, só quer sossego.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Vigília

Você inquieto levanta do sofá. Vai até a janela, espia pela cortina. Vai até a cozinha, remexe nas cartelas de remédio. Vai até o banheiro, abre a torneira por um motivo qualquer. Vai até o quarto e se deita um pouco mas não é o bastante e depois de cinco minutos levanta-se e começa a andar pelo enorme apartamento de novo.
Diate de toda inquietação, eu observando do sofá, digo:
- Vem cá
Você se senta ao meu lado e eu continuo:
- O que aconteceu com você hen?
Espero sua resposta, mas te conhecendo como conheço sei que não vai ser uma conversa convencional onde duas pessoas falam, por isso continuo te dizendo tudo o que penso (mesmo sem você perguntar) enquanto você deitando a cabeça em meu colo com os olhos fechados indica que ouve tudo.
Enquanto falo sem parar tenho a plena consciência de que tu já sabes de tudo que falo, mas penso que se ouvires da minha boca, talvez faça mais sentido e tu finalmente desistas de me deixar louca com tantas más notícias.
- Tá ouvindo o que eu to falando?
Você acena que sim com a cabeça e eu continuo na esperança de que minhas palavras possam talvez entrar por um dos teus ouvidos e não irem embora pelo outro. Percebo que você não está dormindo apesar de estar imóvel porque vejo teus olhos mexendo rápido por baixo das pálpebras, como uma criança agitada. Meu olhar se detém nos teus cílios compridos e muito pretos, que me são absurdamente familiares apesar de todo esse tempo sem te ver.
Já deitados na cama não consigo pegar no sono porque simplesmente não consigo parar de me preocupar contigo. Se respiras muito rápido é porque não consegues dormir, se respira calmo demais tenho medo que estejas morto (exagero eu sei, mas foi isso que senti) e numa alternância entre cochilos e estados de vigília me pego te olhando dormindo, o clichê dos clichês. Começo a pensar em tudo que já vivemos até aqui e me pergunto se algum dia o peso de toda essa preocupação vai passar.
Quando finalmente pego no sono te ouço levantar, olhar a janela de novo e ao deitar de volta na cama, tu me beijas a orelha, me abraças e assim permanece. Pego no sono novamente...

-----

Você fuma seu cigarro despreocupadamente na entrada do metrô. Eu espero entediada porque acho fumar um hábito nojento mas você surpreende mais uma vez me abraçando e eu tão cheia do que dizer sempre, perco as palavras.
Sentados no vagão, eu voltando pra casa e você indo trabalhar, não posso deixar de pensar novamente na ironia da vida em nos unir tantas vezes e de maneiras tão diferentes. Te dou a mão mas ao fazer isso meus olhos se enchem de lágrimas, então viro o rosto porque não quero que você me veja chorando. Não mais uma vez, ainda que os motivos sejam completamente diferentes.
Quando chegamos na sua estação te beijo no rosto e digo em seu ouvido: chega de notícias ruins, tá?
Você concorda e sai andando pela plataforma, mas dessa vez meu coração está tranquilo pela primeira vez em muito tempo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pergunto à minha avó (já esclerosada):
 -Vó, você pensa no vovô (morto há 12 anos)?
- Todo dia , filha. Toda hora...